Domingo

Natália Temístocles
1 min readMay 19, 2024

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Era o mais difícil dos dias, porque é nele que mora a sensação de necessidade máxima de afago.

É nele que mora o vazio existencial do “e agora? amanhã começa tudo de novo? quem vai me consolar de tamanho desconsolo?”

É nele que mora o cansaço da minha alma em agonia que lamenta a existência e o viver.

É no domingo que eu procuro você, pra me esquecer. Me esquecer de mim, da vivência, do dever.

Eu me abandono em queda livre no teu colo, nos teus sons, espaços.

É no domingo que eu busco teus abraços, amassos, estardalhaços.

Mas que perdidos estivemos em tal condução.

Não posso abandonar-me em tais mãos que, consigo mesmo, não consegue se acalentar.

Se tu não te cuidas, como seria capaz de me acalentar?

Não ofereças uma camisa enquanto estiver nu.

Não dirás que me ama, enquanto não amares a si mesmo, a tu.

Eu te esconjuro que saia, me larga, não me distraia.

Do meu caminho de cuidado, não posso deixar-me entreter por um ser tão desleixado.

Te cuide, te crie, te amadureça.

Quem sabe assim, eu paralize o esforço para que eu te esqueça.

Te amei, te amo, te amarei com certeza.

Mas diferente do que pensas não quero que me obedeças.

Apenas peço que cresça.

Caso contrário, me esqueça.

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Natália Temístocles

"Escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever." - Glória Anzaldúa