Doce cítrico

Natália Temístocles
1 min readJul 4, 2024

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Já não sinto conforto em toques

Já não sei mais o que é experienciar o arrepio do encontro entre epidermes que se desejam

Já não anseio por largar-me em outros braços que não os de minha própria consciência

O meu desejo se liquidou em mim

Escorreu pelo vão do meu saber

Molhou as vias da minha arte

Arte essa que agora que “findou”

Deixa-me aqui cinzenta

Sinto saudade da paixão e receio

Não quero mais vivacidade produzida pelo encantamento dos teus órgãos

Não quero mais perder a noção do meu limite quando tua língua tocar a minha

Não quero mais vacilar em meus sentidos quando sentir o teu suor

Não quero mais ofegante implorar para eternizar o gozo

Tornei-me azeda?

A acidez provoca agonia naquele que me prova

Percebo a inabilidade dos que me conhecem em tomar uma dose grande

Necessário goles ínfimos que não arranhem o paladar

Não me disponho mais à doçura

Ao menos não hoje, nem amanhã

Quem sabe na terça que vem…

Pena que poucos sabem,

O profundo eu é doce

O cítrico é só performance protetiva

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Natália Temístocles

"Escrevo porque tenho medo de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever." - Glória Anzaldúa