Doce cítrico
Já não sinto conforto em toques
Já não sei mais o que é experienciar o arrepio do encontro entre epidermes que se desejam
Já não anseio por largar-me em outros braços que não os de minha própria consciência
O meu desejo se liquidou em mim
Escorreu pelo vão do meu saber
Molhou as vias da minha arte
Arte essa que agora que “findou”
Deixa-me aqui cinzenta
Sinto saudade da paixão e receio
Não quero mais vivacidade produzida pelo encantamento dos teus órgãos
Não quero mais perder a noção do meu limite quando tua língua tocar a minha
Não quero mais vacilar em meus sentidos quando sentir o teu suor
Não quero mais ofegante implorar para eternizar o gozo
Tornei-me azeda?
A acidez provoca agonia naquele que me prova
Percebo a inabilidade dos que me conhecem em tomar uma dose grande
Necessário goles ínfimos que não arranhem o paladar
Não me disponho mais à doçura
Ao menos não hoje, nem amanhã
Quem sabe na terça que vem…
Pena que poucos sabem,
O profundo eu é doce
O cítrico é só performance protetiva